Foto: Gil Leonardi / Imprensa MG
O número de pacientes regulados para leitos críticos de covid-19 no Rio Grande do Norte cresceu 70,2% no mês de novembro, de acordo com os dados da plataforma Regula RN, gerida pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) e Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAIS/UFRN). Nos 28 dias de novembro, 63 pacientes foram encaminhados para tratamento da covid em leitos críticos públicos, enquanto que no mesmo período de outubro foram registradas 37 regulações. Atualmente o Estado tem 58 leitos críticos, número sete vezes menor do que tinha em junho de 2021 (418).
O médico epidemiologista Ion de Andrade diz que “do ponto de vista de magnitude comparativa”, o cenário atual é bem diferente dos momentos de pico, quando o RN registrava grande pressão hospitalar com cerca de 100 internações por dia e 1 mil leitos ocupados. No entanto, na avaliação do especialista é preciso ficar alerta porque não há um plano de contingência bem estruturado. “Ficamos à mercê de análises subjetivas porque nós não temos um indicador definido até agora para disparar os planos”, detalha.
Para Ion, tais planos deveriam apresentar um indicativo científico para ativar possíveis medidas de contenção. “Por exemplo, quantos casos por mil habitantes devem ter acontecido, no período de uma semana ou dez dias, para que o plano de contingência seja disparado. Quantos internamentos por 100 mil habitantes devem ter acontecido para que os planos de contingência sejam disparados? Nós não temos isso. É bem diferente da dengue. O plano de contingência da dengue é ativado quando o número de casos ultrapassa o diagrama de controle por duas ou três semanas”, comenta.
O RN hoje está com a taxa de ocupação de leitos críticos em 67,3%, com 12 pacientes aguardando regulação. Quanto à vacinação, a porcentagem preocupa o Comitê de Especialistas da Sesap. São 95% da população vacinada com a primeira dose (D1) e 87% com a segunda dose (D2). Além de 55% de vacinados com a primeira dose de reforço (D3) e apenas 21% com a segunda dose de reforço (D4). “Precisamos clamar a população para que vão aos postos de saúde. Só assim conseguiremos atravessar este vírus com maior controle e menos óbitos”, pede Lyane Ramalho, secretária-adjunta de Saúde.
Como estratégia para prevenção, além da vacinação, a subcoordenadora da Sesap menciona o uso de máscaras, principalmente para evitar a proliferação entre os mais vulneráveis. “É recomendado o uso de máscara por todos aqueles que estejam sintomáticos respiratórios, independentemente de ser covid ou não, é muito importante que as pessoas entendam isso. E que aqueles que são imunossuprimidos, idosos, que estão em ambientes fechados também usem máscaras como um instrumento de proteção, para não se contaminar”, destaca Diana Rêgo.
O uso de máscaras de proteção facial tem sido recomendado por outras instituições no Rio Grande do Norte. Uma portaria, assinada pela Presidência do TJRN e a Corregedoria Geral de Justiça, voltou a indicar o equipamento para magistrados, servidores, colaboradores, estagiários e prestadores de serviço, além do público externo nos espaços fechados das unidades do Poder Judiciário do Estado. Outras medidas de prevenção, como uso de álcool em gel, também foram listadas.
A Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progesp) da UFRN enviou comunicado à comunidade universitária reiterando a recomendação do uso de máscara, em conformidade com o Protocolo de Biossegurança da instituição de ensino. A orientação levou em consideração o recente aumento de casos de covid-19 em alguns estados do país, bem como a identificação de nova subvariante.
Aumento de casos
Os casos de covid-19 no Rio Grande do Norte aumentaram nas últimas semanas. Os novos registros são atribuídos às novas subvariantes identificadas no País. De acordo com a Sesap, cerca de 100 casos estão sendo notificados diariamente. “Aumentamos bastante o registro de casos. Antes, a gente tinha de 5 a 15 casos por dia, e hoje passamos dos 100 casos por dia”, afirmou a subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica da Sesap, Diana Rêgo.
Na última quinta-feira (24), o Instituto de Medicina Tropical (IMT) da UFRN detectou duas novas variantes, em sequenciamento de amostras positivas para SARS-CoV-2, referentes ao período de 21 de outubro a 17 de novembro de 2022, provenientes dos municípios de Natal e Parnamirim. O serviço de vigilância genômica realizado pelo IMT/UFRN, em parceria com o Instituto Butantã e o Getúlio Sales Diagnósticos, realizou o sequenciamento de 32 amostras positivas para o vírus da covid.
Desse total, mais da metade são novos tipos de SARS-CoV-2, sendo 16 da nova variante BQ.1 e duas amostras da nova cepa BN.1.5, além de outras 14 amostras da BA.5, que já circulava desde maio de 2022. “Há um indicativo de que as novas variantes são mais transmissíveis, se observarmos a quantidade de novas variantes nas amostras analisadas e o aumento recente da quantidade de pessoas com covid-19”, considera Selma Jerônimo, diretora do instituto.
IMT-UFRN detecta duas novas variantes no RN
O Instituto de Medicina Tropical (IMT) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) detectou duas novas variantes, em sequenciamento de amostras positivas para SARS-CoV-2, em Natal e Parnamirim.
O serviço de vigilância genômica realizado pelo IMT-UFRN, em parceria com o Instituto Butantã e o Getúlio Sales Diagnósticos, realizou o sequenciamento de 32 amostras positivas para SARS-CoV-2. Desse total, mais da metade são novos tipos de SARS-CoV-2, sendo 16 da nova variante BQ.1 e duas amostras da nova cepa BN.1.5, além de outras 14 amostras da BA.5, que já circulava desde maio de 2022.
“Há um indicativo de que as novas variantes são mais transmissíveis, se observarmos a quantidade de novas variantes nas amostras analisadas e o aumento recente da quantidade de pessoas com covid-19”, considera a diretora do instituto Selma Jerônimo.
O período de análise das amostras é referente referentes ao período de 21 de outubro a 17 de novembro de 2022.
Especialistas descartam onda de casos graves
Frente ao crescimento do número de casos, infectologistas do RN recomendam o reforço da vacinação em adultos e crianças, que está abaixo do esperado, e das medidas de prevenção. Mesmo que o surgimento de uma subvariante (BQ.1) e nova onda, número é considerado normal por especialistas.
“A tendência vai ser basicamente essa. Essas variantes vão surgir, isso é uma coisa que a gente já espera que vá acontecer mesmo, como é a transmissibilidade, evidentemente, mas que elas não se revertam em um aumento de casos graves, óbitos e hospitalizações porque as pessoas estão imunizadas e a tendência é que essas variantes, à medida que elas surjam, também desapareçam rapidamente”, diz Leonardo Lima, infectologista do LAIS/UFRN.
Ainda de acordo com ele, os cuidados devem ser reforçados para que se possa atravessar o momento com maior tranquilidade. “Isso indica, também, que a gente precisa reforçar as campanhas de vacinação e estimular as pessoas com vacinas em atraso e procurarem seus imunizantes. É preciso que a gente transmita essa mensagem com cuidado”, afirma.
Para Leonardo, o número de casos tem apresentado estabilidade e é natural que novas variantes surjam. De acordo com ele, essas são variantes menos letais, embora mais transmissíveis. “A gente tem uma redução de número de casos sustentada a partir do processo de imunização. As variantes irão surgir naturalmente. São variantes que podem ser mais transmissíveis, mas com a letalidade mais baixa”, diz.
Baixa cobertura vacinal em crianças também deve ser levada em consideração.“Muitos pais negligenciam a vacinação das crianças, de 3, 4 anos. É importante que o Ministério da Saúde envie as vacinas para os estados e os estados façam campanhas massivas para estimular os pais e os responsáveis”, comenta.
A infectologista, Marise Freitas, reverbera da mesma opinião sobre o aumento de casos. “Assim como outros países tiveram um aumento de casos, uma pequena onda de casos, nós também, possivelmente, vamos passar por isso”, comenta. Ela explica que essa subvariante que circula é advinda da ômicron e lembra que, embora os casos estejam aumentando, ainda não se sabe se essas pessoas estão infectadas pela BQ.1.
Marise reafirma que o aumento de casos se dá pela baixa cobertura vacinal em doses de reforço (D3 e D4) e o surgimento de novas variantes. “Há uma lacuna enorme. As pessoas se vacinaram no passado, em 2021. Então, temos uma proporção muito alta de pessoas que não tomaram segundo reforço. Nós temos uma proporção muito alta de crianças não vacinadas, ou seja, que não teve proteção alguma”, complementa.
De acordo com ela, é preciso estar atento aos números. A quantidade de casos que surgem, a quantidade de leitos ocupados, lembrar que a pandemia ainda não acabou . “É preciso estar atento às condições do seu ambiente de trabalho, escola, casa”, diz.
Tribuna do Norte