”Política de financiamento público do Governo Federal deixa Brasil à mercê das flutuações dos preços das commodities”, diz Senador Jean

O Senador Jean (PT-RN) concedeu entrevista à Agência Senado e criticou a política de financiamento público praticada hoje do Governo Federal.

Atualmente, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que foi criado pelo governo federal com a missão de alavancar o parque industrial brasileiro, financia mais a agropecuária do que a indústria.

“Enxergo isso com preocupação. Aquele ‘S’ no final do nome do Banco não é à toa, quer dizer ‘social’, e fala do compromisso do BNDES em gerar emprego e renda. Priorizar atividades altamente mecanizadas de produção de commodities em detrimento do apoio à indústria e outras atividades capazes de gerar produtos de maior valor agregado me parece ser um erro”, afirmou Jean.

Para o parlamentar, seria diferente se o suporte do BNDES fosse para desenvolvimento e exportação de tecnologia. “Gerando mão de obra qualificada e produtos de altíssimo valor agregado. Mas talvez não seja o mecanismo ideal para apoiar atividade regular como safra, que possui sua importância, mas tem amparo em outros mecanismos”, complementou.

Sobre a opção do financiamento do agro em detrimento da indústria, o Senador Jean argumento que não é uma escolha somente política.

“Um misto de seletividade política com miopia conjuntural. É evidente que a pressão política da base bolsonarista, que tem raízes profundas no agronegócio, influenciou essa alocação. Mas é uma estratégia de tiro curto, que nos deixa suscetíveis às flutuações dos preços das commodities, e cada vez mais afunilados em nossas exportações”, disse o parlamentar.

Jean defende mudanças na maneira como estão sendo conduzidos esses financiamentos. “É preciso reverter a primarização da pauta de exportações brasileira. O agronegócio é crucial, especialmente, para a nossa balança comercial, mas o Brasil não pode depender tanto de commodities de baixo valor agregado. A retomada do dinamismo econômico requer outro modelo, tendo em vista a deterioração dos termos de troca das commodities em relação aos bens manufaturados e uma menor elasticidade-renda da demanda por bens primários”, argumentou.

O senador defendeu que o Brasil deveria buscar maior complexidade na economia. “E parece que a prioridade é exatamente o contrário”, criticou o parlamentar do Rio Grande do Norte.

O Senador Jean ponderou que precisamos apoiar o desenvolvimento produtivo do país, reduzindo o “hiato tecnológico” em relação aos países desenvolvidos.

“Disso dependerá a geração de empregos qualificados no contexto da revolução tecnológica e das mudanças produtivas em curso. Para não falar dos impactos ambientais de um modelo baseado na exportação de commodities agrícolas e recursos minerais”, complementou Jean.

“Caminho adotado pelo governo é pior dos mundos”

“Há muito debate sobre os contornos de uma política industrial, mas eu acho que o caminho adotado pelo atual do governo é o pior dos mundos, como sempre, tirando tudo sem propor nada no lugar”, alegou o Senador Jean.

Na visão do parlamentar, é necessário fazer um esforço de fomento à indústria, mas com preocupação em focar em nosso potencial competitivo, indústrias e tecnologias com potencial de crescimento, olhando também para sustentabilidade ambiental e social.

“É um debate que precisa ser aberto e ficar aberto. O que não dá é para não fazer nada, vendo nossa economia definhar em um monobloco agrícola. Uma indústria competitiva, inclusive do ponto de vista do comércio externo, é capaz de gerar empregos de melhor qualidade e de produzir e disseminar inovações. Portanto, o BNDES deve estar sintonizado com os desafios da modernização industrial, especialmente para os setores ligados ao novo paradigma produtivo e tecnológico. Desta forma, ele seria um instrumento para reverter a desindustrialização e ampliar a importância relativa da indústria na economia brasileira”, finalizou o Senador Jean.

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