Licenciamento do Ibama para Petrobras perfurar poço de Pitu Oeste está na fase final

A Petrobras aguarda licenciamento do Ibama para iniciar a perfuração de dois poços na Bacia Potiguar: Pitu Oeste e Anhangá, na Margem Equatorial. A informação é do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que concedeu entrevista à TRIBUNA DO NORTE. Para esse licenciamento, segundo ele, só falta a Avaliação Pré Operacional (APO), que pode ocorrer ainda este mês. “Essa é a fase final do processo de licenciamento. Nossa expectativa é que ocorra tudo bem nesta avaliação e que, logo após ela, o Ibama emita a licença para perfuração do Pitu Oeste”, afirma. Ele fala ainda sobre política de preços de combustível, nova fase da presença da estatal no RN e exploração de energias renováveis. 

Divulgação

Prates disse que a Petrobras aguarda a última fase do licenciamento do Ibama, a APO, na Margem Equatorial do RN. Emitida a licença, a perfuração dos poços Pitu Oeste e Anhangá pode começar em novembro

»ENTREVISTA » Jean Paul Prates, presidente da Petrobras

Há planos de exploração da Margem Equatorial com a possibilidade de perfuração de dois poços exploratórios no campo de Pitu localizado no Rio Grande do Norte. Como está esse esse processo atualmente?

A Petrobras segue comprometida com o desenvolvimento da Margem Equatorial, uma promissora fronteira energética do Brasil, que abrange cinco bacias em alto mar, entre o Amapá e o Rio Grande do Norte. A nossa estatal está preparada para realizar com total responsabilidade atividades na Margem Equatorial, onde pretende empregar todo o seu conhecimento operacional e as tecnologias necessárias para garantir uma operação segura. Dito isso, temos dois poços em processo de licenciamento, no curto prazo, na Bacia Potiguar: Pitu Oeste e Anhangá. Para tal licenciamento só falta ocorrer a APO, Avaliação Pré Operacional, que será provavelmente marcada pelo Ibama para o mês de setembro. Esta é a fase final do processo de licenciamento. Nossa expectativa é que ocorra tudo bem nesta avaliação e que, logo após ela, o Ibama emita a licença para perfuração do Pitu Oeste.

Como a Petrobras planeja  retomar a campanha de exploração em águas profundas da Bacia Potiguar em 2023? Há perspectivas de aumento da produção de petróleo no RN?

A sonda NS-42 está terminando poço na Bacia de Campos e passará por limpeza de casco para ser deslocada para a Foz do Amazonas ou para a Bacia Potiguar, a depender da licença dada pelo Ibama. Se a licença para a Potiguar sair antes, deverá iniciar a perfuração do poço Pitu Oeste já em outubro/novembro deste ano. Se a Foz ocorrer antes, a sonda vai lá, perfura o poço por cinco meses e vem para cá em meados do ano que vem. Já a produção vai depender da avaliação da descoberta e da delimitação do reservatório. Isso ocorre em até 180 dias a contar da declaração de comercialidade à ANP. A Petrobras apresenta seu plano de desenvolvimento e inicia a construção de plataformas e navios de apoio. Normalmente, se espera que a produção em si comece no mínimo em 4 a 5 anos a partir da comercialidade da descoberta. É bom lembrarmos que exploração de petróleo na Margem Equatorial poderá abrir uma importante fronteira energética para o país, que se desenvolverá de forma integrada com outras fontes de energia e contribuirá para que o processo de transição energética ocorra de forma justa, segura e sustentável. Novas fronteiras, a exemplo da Margem Equatorial, são essenciais para a garantia da segurança e soberania energética nacional, visto que, apesar de decrescente, a demanda global de petróleo se mantém essencial em todos os cenários alinhados ao Acordo de Paris. Mesmo em cenários de transição energética acelerada, a demanda de petróleo para o Brasil e região é crescente, passando por um pico em 2030, mas maior em 2050 do que em 2021.

A Petrobras tem feito ajustes no preço dos combustíveis. Como a estatal está definindo seus preços e qual a principal alteração na política?

A estratégia comercial, que substituiu a política de preços anterior, confere à Petrobras maior flexibilidade para praticar preços competitivos por polo de venda, se valendo de suas melhores condições de produção e logística e disputando mercado com outros atores que comercializam combustíveis no Brasil, como distribuidores e importadores. Permite à Petrobras competir de forma mais eficiente, levando em consideração a sua participação no mercado, para otimização dos seus ativos de refino, e a rentabilidade de maneira sustentável. Isso é que significa “abrasileirar” os preços: usas esses atributos da produção e refino nacionais em favor do consumidor brasileiro, diminuindo o reflexo interno da volatilidade internacional. Em um primeiro momento, isso permitiu que a empresa reduzisse seus preços de gasolina e diesel e, nas últimas semanas, mitigasse os efeitos da volatilidade e da alta abrupta dos preços externos, propiciando período de estabilidade de preços aos seus clientes. No entanto, a consolidação dos preços de petróleo em outro patamar, e estando a Petrobras no limite da sua otimização operacional, incluindo a realização de importações complementares, foi necessário realizar ajustes de preços para ambos os combustíveis, dentro dos parâmetros da estratégia comercial, visando reequilíbrio com o mercado e com os valores marginais para a Petrobras.

Temos possíveis problemas de abastecimento do diesel no País?

A Petrobras continua cumprindo integralmente e de forma regular suas obrigações contratuais de entrega de produto para as Distribuidoras. Adicionalmente, buscamos ampliar a oferta local de diesel por meio da máxima utilização rentável de nossos ativos de refino, cujos fatores de utilização (FUT) estão próximos de 97%. Como resultado, no mês de julho registramos a produção recorde de 2,38 bilhões de litros de diesel S10. Importante lembrar que, atualmente, o mercado brasileiro também é atendido por outros agentes, tanto produtores quanto importadores, sendo que entre esses últimos as próprias companhias Distribuidoras destacam-se com a maior participação. De nossa parte, Petrobras, não houve qualquer retração na produção e entrega. 

O senhor disse em março deste ano que a Petrobras iria cumprir todos os contratos firmados sobre a venda dos ativos da Petrobras na gestão anterior, mas que algumas vendas iam ser revistas. Uma nova análise está sendo feita. Quais negociações podem ser revertidas? Pode detalhar?

A Petrobras cumpriu todos os contratos que já haviam sido assinados até a nova gestão assumir. As vendas que não foram completadas é que foram todas suspensas e, aos poucos, estão sendo revertidas e transformadas em novos investimentos, parcerias operacionais ou novos empreendimentos aprimorados. Quanto a ativos que tenham sido vendidos e que os compradores queiram nos procurar para conversar, estamos abertos. Há ainda as investigações sobre processos em que houve denuncias de possíveis irregularidades. Mas essas correm sob sigilo interno e provavelmente deverão envolver decisões judiciais ou processos voluntários de renegociação.

Alguns veículos nacionais divulgaram que a 3R tem intenção de negociar ativos, entre eles, a Refinaria Clara Camarão. Segundo informações não oficiais, a  Petrobras assinou um termo de preferência quando da compra da Refinaria Clara Camarão pela 3R . Essa informação procede?

Sim, há um direito de preferência assegurado por esta gestão em favor da Petrobras em relação a ativos industriais que a compradora coloque à venda, inclusive a Refinaria Potiguar Clara Camarão (RPCC), localizada em Guamaré. Os detalhes deste processo só podem ser trazidos a público se e quando ocorrer tal hipótese, que, por enquanto, permanece no campo das possibilidades. 

Qual o impacto de reassumir a refinaria?  Isso ajudaria a reduzir o volume de importação de óleo combustível?

O impacto mais importante seria recuperar uma base operacional no Rio Grande do Norte. O restante só podemos revelar se isso vier a se tornar realidade.

Nos últimos dois anos, o RN apresentou um maior incremento nas exportações de petróleo, ou seja, a Refinaria não tem operado com grande destaque no refino. A produção de gasolina não tem uma relevância forte em comparação a outros estados. Como o senhor avalia? E com a Petrobras haveria investimento para aumentar a capacidade da refinaria?

Não me cabe tecer comentários sobre a atual gestão do ativo de Guamaré. Como senador da República, até o ano passado, me manifestei diversas vezes quanto ao erro de vender estes ativos da forma como foi feito. O que posso dizer neste momento é que a Petrobras irá iniciar uma nova fase da sua presença no Rio Grande do Norte, independentemente desta situação. A retomada da exploração no mar e o fato de sediar a equipe que vai tocar os projetos de eólica costa afora (offshore) são os principais direcionadores para isso.

Que investimentos estão planejados para exploração de energias renováveis offshore no RN? 

A Petrobras já iniciou um conjunto de campanhas de medição anemométrica offshore em parceria com o ISI-ER por meio de duas iniciativas: o aproveitamento de Plataformas fixas no RN, CE e ES para instalação de LiDARs; e a segunda fase do desenvolvimento tecnológico da BRAVO, boia meteoceanográfica nacional apropriada para medição do vento na altura do aerogerador, por LiDAR. Esse projeto permitirá validar o uso da tecnologia no mar de vários estados brasileiros (atualmente planejado para: PI, CE, RN, RJ e RS). Todas estas atividades futuras serão sediadas no RN. Lembrando que foi a Petrobras, em 2013, que instalou a primeira torre anemométrica do país em ambiente offshore. A torre de 85 m foi instalada inicialmente na Plataforma PAG-02, no Rio Grande do Norte, e posteriormente em três outras plataformas no Rio Grande do Norte e Ceará. Além de avaliar o perfil de velocidade do vento, essencial para a definição da altura de instalação dos aerogeradores, o teste de campo validou a capacidade de medição do LiDAR. Já assinamos acordo de cooperação com a estatal norueguesa Equinor para desenvolvimento conjunto de alguns parques eólicos marítimos em todo o Brasil, um dos quais no RN. Nas próximas semanas, vamos entregar outros projetos para licenciamento pelo IBAMA. A partir das medições que teremos, vamos conseguir montar e executar esses projetos e conectar alguns deles à produção de hidrogênio verde para exportação em condições mais competitivas que qualquer outro lugar do mundo. Estamos muito animados com as possibilidades de voltar a empreender no Rio Grande do Norte, no Ceará, na Bahia e em Pernambuco – reiniciando a nossa presença no Nordeste em grande escala. A Petrobras que foi pioneira na exploração de petróleo e gás na região, também será a líder e pioneira dos novos horizontes marítimos na geração de energia limpa e combustíveis verdes. 

O senhor pensa em um retorno à política? Seria candidato ao governo em 2026 ou retornaria ao Senado?

Desde que me filiei ao Partido dos Trabalhadores do Rio Grande do Norte em 2013, nunca mais saí da política. E hoje me sinto desempenhando um mandato de gestor da maior empresa da América Latina, mas ainda assim um mandato político – por se tratar de uma empresa sob controle do Governo Brasileiro. Em respeito a este mandato importante, que me foi diretamente dado em confiança pelo Presidente Lula, e também pela gratidão e admiração que tenho em relação à Petrobras (onde iniciei minha carreira profissional nos anos 1980), estou me dedicando integralmente a comandá-la em direção a uma transição difícil e à sustentabilidade.

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